quinta-feira, 30 de abril de 2009

Ruinhas

Vagueava eu pelas estreitas ruas do meu pensamento, e sem querer acabei por ir parar aquelas ruinhas de Béchar onde só eu passo, onde só eu, desorientada, consegui passar … sempre que me aperta o pensamento a memória salta à minha frente e desata a correr, não a consigo apanhar mais, tento ganhar-lhe, apanha-la e devolvê-la mas já consigo … corre em franca vantagem. Eu consigo vê-la à minha frente e é ai que sem querer revejo os momentos …

E lá estava, mais uma vez com o coração a querer saltar-me boca fora, a sentir os pés a trilhar aquele sulco a meio da ruinha que nos faz saber que por ali, há centenas de anos passam centenas de pessoas e que por ali passam a saber para onde vão, e eu perdi-me por lá …

Sinto-me imediatamente descalça, só descalça encontro o caminho … são biosonares, por isso é que os mimo tanto …

Enquanto corro a respiração atrapalha-me o pensamento, atrapalhou-me … utilizar aqueles truques básicos de seguir o sol ali não resulta, mal se vê o sol, sente-se mas não se vê, as ruas são estreitas, quase tão estreitas como o meu pensamento … onde só cabe uma pessoa …

Agora estou só, e estou só com o pensamento e assim estou a salvo, mesmo que me sinta descalça, mesmo que sinta o sulco a meio da ruinha, mesmo que chegue a cada encruzilhada daquele labirinto … agora estou só em pensamento e portanto estou a salvo.
Aquele cheiro do chá do deserto invade-me os sentidos, se alguma coisa me cheira aquilo apalpo logo o terreno só para ter a certeza que o que está em presença é só o pensamento e a memória …

Ainda guardo o lenço azul que me cobria a cara, arrepia-me pegar nele mas fico aliviada já não tem tef tef, está lavado. Se me cruzo com ele quando abro a gaveta, as vezes, ainda vou ao espelho só para ter a certeza que foi nos olhos que leste que precisava de ajuda.




9 comentários:

El Matador disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
El Matador disse...

São tortuosos os labirintos do pensamento.

Santo PC disse...

Desempastela essa memória, fdx.

Mokas disse...

banda sonora e texto em perfeita consonância...

Mokas disse...

depois de voltar vezes sem conta não só para reler, mas para apreciar este som (que é muito semelhante ao ruído que a minha mente produz), acabei por puxar todo o album "Arabic chillout" 3cds.
Está tão brutal que assim que puder compro o originalParabéns pelo blog....
É um verdadeiro "liquor"!
Já está na minha garrafeira
=)

FacAfiada disse...

El matador,
Os labirintos só por si já são complicados os do pensamento são complicadamente tortuosos!

Chegam a ser terriveis!

FacAfiada disse...

Santo Padre,
A memória não é o que queremos que fique é o que fica, muitas vezes sem querermos!

FacAfiada disse...

Mokas,
Este som é o som que acompanhou a memória acompanha-me muitas vezes, é muito bom.
Se soubesse fazer musica teria feito esta para acompanhar esta memória, acompanha na exactidão as batidas do meu coração!

Obrigada por voltares e sabe-me bem que aprecies.

Bjs

Francisco Sequeira disse...

As marcas maiores ...