sexta-feira, 26 de junho de 2009

Ego vs Consciência

- Do ego, não, da consciência!
- Mas em armação de que sabes tudo, não é ego, é consciência! Digo eu que de mim eu percebo melhor que tu!
- Porra, isso é ego!
- Consciência!
- Ego e teimosia!
- Estás a provocar-me azia, Consciência!
- Esmera-te para explicares!
- Consciência, é consciência e tenho arrancado isto a ferros de mim própria! Isto tem-me tirado noites de sono tranquilo, ou pensas que chego aqui e resolvo que é consciência sem primeiro ter estado pendurada de cabeça para baixo a ouvir o eco do poço?!
Até acho que me custa mais admitir que em consciência não tive a noção, do que admitir que estava com o ego demasiado elevado e nem reparei que estava a fazer pó na lama! Caramba isso corrompe-me os sentidos …
-Tu lá saberás, bem ou mal terás as tuas razões!

E com isto não tive como adiar um duelo sobre mim mesma, socorri-me de algum expediente para me explicar afinal o que me embargou a vontade, o que me fez parar no momento em que me senti a patinar.


Aconteceu-me dizer coisas sem pensar. Sem querer …
Aconteceu-me dizer o que em situações normais jamais diria. Por medo …
Aconteceu que o mecanismo de defesa esqueceu esses momentos …
Todos?! … Não!

Embarguei a vontade em virtude de uma consciência súbita ou de um ego acomodado?

Freud disse que “O ego é uma instância da personalidade definida pela psicologia como o nosso eu mais perceptível”. O ego é uma instância psíquica relacionada ao princípio de realidade.
Se me detiver nesta explicação, não estou no espaço do ego … onde, em que momento é que tive a percepção? Não tive! Nem a vislumbrei ao longe … nem a pressenti, nada!
Se o ego é a parte mais perceptível de cada um, ainda que a agir condicionada eu não dei conta, tive vários condicionantes, tive momentos de pressão que me condicionaram até o olhar mas nem elevei nem afoguei o ego … foi por consciência que disse, já chega, quem não vê é porque não sente!

Estava condicionada mas consciente!

Mas também é verdade que o ego é um grupo de Eus … muitas vezes um grupo de milhares de Eus … O ego usa a máscara que mais lhe satisfizer, sendo geralmente isso o que acontece com todos e cada um de seus componentes. O EU, de acordo com as circunstâncias, mostra-se tal como é ou esconde-se sob finas subtilezas.
Todos e cada um dos eus, que podemos carregar, podem ser bestiais, brutos, selvagens, malignos, malvados, perversos, amorosos, agradáveis, amantes, bêbedos, adúlteros, afectuosos, homossexuais, carinhosos, cínicos, ternos, hipócritas, ambiciosos, vulneráveis, despojados, crentes, arrebatadores, invejosos, ... são terríveis... são EUS. E podem ser tudo!

Em consciência reprimi o meu Eu menos medroso … por medo!
E em consciência perdi o meu Eu mais crente … por precaução!
Em consciência desperdicei o meu Eu mais inócuo … por insensatez! Mas desta feita insensatez alheia!




terça-feira, 16 de junho de 2009

Preciso


E não é que fiquei infinitamente feliz?

Subitamente e com um simples “Hi” fiquei aos pulinhos de contentamento. O rufia que me deu a mão, que me ensinou que dar a mão é o maior sinal de confiança, que me deu a conhecer um submundo, uma inconstância com o misto de dor e de prazer vem apanhar ar à Europa. Que alívio, para mim porque andava em sufoco, não tenho saudades, tenho só um “preciso” dos grandes. E preciso mesmo, hã!

Há uns anos atrás estava eu em espiral, rodopiava sobre mim mesma e alguém que eu não conhecia de parte nenhuma num sítio que já nem me lembro bem, só sei que foi em Greenwich village disse-me “your eyes are a confused mix of angel and devil. Do you lend them to me for a few days?”. Pois, emprestei e mais que isso permiti-me a ver pelos olhos dele … daí resultou que eu fui a bóia de salvação para ele e ele puxou-me para a margem. Ganhámos os dois e saímos vencedores. Vencemos uma batalha os dois e sempre fundada numa imensa confiança que se apresentou no primeiro minuto. Daí retirei um bom ensinamento que uso invariavelmente embora em algumas ocasiões não faça a correcta leitura. Ele sempre me disse se alguém te recusar as mãos não é de confiança, não crê nelas o sentido que têm, e não é que o maior rufia sabe o que diz?!
Porque é que confiei nele se não tem ar de pessoa confiável? Porque sabe ler as mãos …

Eu ainda não sei … pode ser que aprenda.

É um artista de mão cheia, eu disse-lhe muitas vezes que aqui, em Portugal quando se chama artista a alguém pode ser num sentido muito depreciativo, o típico “olha que grande artista!”, ele é um grande artista e tem cada arte que só se ganha com calo, com vida, com passagens, com credos, com gritos, com tiros, com risos, com vidas, com mortes, com choros … é a vida! A vida é isto, é assim, dói, mais ou menos, as vezes nem dói mas sente-se, quer-se, e vive-se. Eu vi os meus olhos transpostos para a tela e vi-os melhor que se me visse ao espelho, engraçado que o que vi na tela nunca consegui ver no espelho, perguntei-me tantas vezes, mas ele consegue ver uma coisa que nem eu consigo? Valeu-nos um desempate de vida aquela tela, desempatou-nos situações limite, nunca mais a vi e provavelmente nunca mais a vou ver, também nunca mais vi o que vi na tela porque aprendi algumas coisas, porque ele durante o processo ensinou-me algumas coisas e o que estava representado já passou … Grande tela, grande artista, grande homem, grande rufia!

Durante aquele tempo tive medos, cresceram-me medos e matei outros medos, foi um equilibrar da balança, lembro-me de matar o tempo em noites altas e gostar de ver as luzes da cidade … de me sentir segura nos sítios mais inseguros, é uma questão de negociação interior dizia ele, e bem. É mesmo, negociar intimamente medos, temores, fobias, receios, dúvidas, saber fazer cedências a uns e proibir outros é um negócio que as vezes até falha mas aprende-se, experimenta-se …
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terça-feira, 9 de junho de 2009

Sorrir # 1

Hoje distraída, em sonho, sorri-te.Quando dei conta do meu erro, fiquei séria. Fiquei o mais séria que consegui.

Fiquei séria e amarga …

Já te sorri com tanta vontade e como é que agora tenho tanta vontade de não sorrir?
Eras tu, e eu, eu já não te sorrio. Sorri-te e não viste. Sorri-te e não sentiste …

Sorriste-me, mas, mais uma vez, os nossos sorrisos não se cruzaram. Porque tu sorrias do que eu não sorrio, do que eu não consigo sorrir …

Como é que os sorrisos parecem iguais e são tão diferentes?!

O meu é sincero!




"O riso é algo que irrompe num estrondo e vai retumbando como um trovão na montanha, num eco que, no entanto, não chega ao infinito. O sorriso, pelo contrário é silencioso como chuva mansa que cai e fertiliza a terra ou como uma brisa suave que acaricia e refresca o rosto. Enquanto o riso é extroversão, o sorriso desvenda delicadamente o interior de quem sorri”

Bergson

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Gueto

Sexta-feira fim de tarde:

- Olha lá vou em trabalho para Varsóvia podias vir comigo, tenho uma viagem que não vou usar, como vou estar a trabalhar não te vou melgar, e podes ir meter-te no teu gueto predilecto …
- Não posso, Domingo vou votar …
- Deves ganhar muito com isso!
- Não ganho nada, ganho só voz …
- Merdas …! Vinhas comigo e havia de ser muito mais divertido que ir votar, sabes bem que essa malta só corre para tachos querem lá saber do resto.
- Esse argumento não é válido para mim, foi um direito que custou muitas vidas a conquistar, reconheço-o, para além disso se não for votar perco a legitimidade de mandar vir …
- Há bom assim já estamos a falar como deve ser … contestatária!
- Além disso está a chover e prometi que não havia de ir a mais lado nenhum contigo ... quando estivesse a chover …
- Aahahaha pois até o tempo chora da cadência de disparates que fazemos juntos!
- Boa viagem …

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Surpresa

De há uns dias para cá um amigo de longa data tem insistido que precisa de falar comigo, que tem uma coisa importante que queria partilhar comigo. Entre este e aquele compromisso não tenho podido assistir a vontade dele e tenho declinado os convites para almoçar. Hoje perto da hora do almoço foi-me adiado um acto e fiquei com um “furo” de 2 horas para almoço, liguei-lhe para irmos almoçar. Combinamos na Cinemateca e em poucos minutos lá estávamos os dois. A cinemateca é um local muito agradável para almoçar, para estar, um oásis na cidade, como não se vê a rua, o reboliço da cidade fica distante …

Sentamos na esplanada do pátio interior, reparei que ele estava com um tom solene e comecei a ficar preocupada, ligeiramente nervosa até:

- Mas olha lá o que é que se passa, já estou aflita!? Estás doente?
- Não, já te conto, vamos servir-nos lá dentro
- Olha que não gosto deste compasso de espera, estás a preparar-me ou o quê? Vais ser pai??
- Não
- Vais trabalhar para fora?
- Não
- Não aguento tanto suspense …

(sentámos entretanto …)

- Em primeiro lugar queria muito agradecer-te
- A mim? Porquê?
- Foste a minha inspiração, deste-me um abanão no momento certo, tu que tens pouco mais de metro e meio fizeste-me sentir um nada …
- Eu? Quando?
- Lembraste quando em Novembro me encontraste na noite, e me seguiste com o olhar a noite toda, de longe … e à saída eu apresentei-te a minha amiga … e tu chamaste-me à parte e disse-te “ Não insistas em gostar de quem não sabe gostar de ti!”
- Tenho uma vaga ideia …

(Neste momento detive-me, ouvi um STOP, deixei de o ouvir, senti-me a planar no pensamento, ausente, vazia, despojada, distante, saqueada, divaguei sobre mim mesma … rodopiei por ali, ouvi o vento, ouvi o mar, ouvi vozes muitas vozes, os olhos arrasaram de agua, vi imagens a passarem ao meu lado, um calor imenso parecia que tinha a cabeça a arder, fechei os olhos e vi … foram segundos, fiz um esforço para me concentrar e voltei à terra!)

- Pois então, pensei dias a fio sobre isso e resolvi casar-me! Outra vez!
- Vais casar-te outra vez?
- Sim vou-me casar e desta vez de consciência, e quero que sejas a madrinha porque em grande parte foste tu que me abriu os olhos … pensei dias e dias no que me disseste, no que tiveste a coragem de me dizer. Agradeço-te de coração.
- Não tens que agradecer nada, só quero que sejas feliz e naquele dia não te vi feliz, vi-te usado. Não gostei de te ver … E vais casar com a amiga que me apresentaste?
- Não vou casar com outra …
- Como se chama?
- M.
- M.?? Não baste ires casar outra vez como escolheste uma noiva com o mesmo nome da tua primeira mulher?
- Não estás a perceber, eu vou casar com a M., outra vez …
- rsssss estupor! Venha a festa!

(…)

Como é que eu, em certa altura, tive a clareza de espírito de dizer a alguém de quem eu gosto muito uma frase que hoje teve para mim um efeito de raio … fiquei fulminada com o que disse hà uns meses a trás!

“Não insistas em gostar de quem não sabe gostar de ti!”

Hoje acrescento, não insistas em gostar de quem não sabe, não quer ou não gosta de gostar de ti, ou simplesmente de quem não gosta de ti!

Ás vezes é assim detemo-nos a gostar muito de alguém, e simplesmente não vale o esforço, não é que a pessoa não valha o esforço, o esforço é que não vale, porque é em vão …
Não chega gostar. Não me chega eu gostar. Não é suficiente um gostar.
Onde é que eu tinha a cabeça para ousar sair da minha protecção?
Onde é que eu tinha a cabeça para achar que chega gostar?
Onde?

Ainda me conservei por algum tempo a tentar achar uma explicação, a encontrar um argumento, a justificar … a justificar-me …

Ainda alvitrei saber como é que o que foi uma emoção num passado recente não é mais que um incómodo dias depois … eu como não digo o que não sinto faz-me confusão, não encontro explicação, se não sinto não digo, ponto final. Se sinto nem sempre digo, mas quando digo é porque sinto muito …

E agora digo para mim “Não insistas em gostar de quem não sabe gostar de ti, não quer ou não gosta de gostar de ti, ou simplesmente de quem não gosta de ti!”, vou repetir até estar convicta …

Senti muito e agora sinto muito!





segunda-feira, 1 de junho de 2009

Touché


Estive até ao último minuto possível a hesitar, colei-me a todas as desculpas para justificar não estar presente, não comparecer. Não tinha porque não ir, era um torneio amigável, conhecia todos os presentes, não era mais que um treino eu sei … havia sido feita a combinação e os preparativos, no fundo era uma forma de reunir todos novamente e perceber quem é que estava com espírito para uma temporada e quem é que estava preparado para desafios fora do grupo …

Fui à praia para justificar o cansaço, não tratei do equipamento … não me organizei, tinha criado todas as condições para não ir!

21h estava no meu sofá a ver televisão e a pintar as unhas dos pés … mudei de canal e vi as horas, fiz contas de cabeça reuni o equipamento mentalmente, agarrei no telemóvel e em 2 minutos organizei-me, pensei é burrice estar aqui a contrariar-me sem motivo nenhum, dez minutos depois estava a caminho …

Cheguei atrasada, o que é habitual, ninguém contava com a minha presença mas ao verem-me senti que acreditaram até ao último minuto que viria, ainda nem tinham sido distribuídos os pares e o nosso instrutor quando cheguei disse “pois, estávamos à tua espera para organizar os pares!” … já aqui estou…

O grupo em geral estava com espírito, apesar do calor e do equipamento não ser a coisa mais fresca do mundo, estávamos todos com a garra que em tempos nos foi muito característica. As frases d’armas sucederam-se umas atrás das outras, em cada Assalto, em cada desengajamento, em cada deslocamento, em cada em Guarda os encorajamentos do grupo subiam de tom e os drops subiam de atitude. Até eu que nos últimos treinos tinha “levado na cabeça” por estar sempre em recuo, senti-me a dar redobramento sem medos … o som metálico dos toques de deslizamento teve novamente o som que gosto, que me concentra que me foca.

Não sei exactamente o que me fez reter tanto tempo no medo de ir, talvez algum desapontamento sobre mim que tive de reconhecer nestes últimos tempos, esta é uma das desculpas que arranjo para justificar … não faz sentido, eu sei!

A verdade é que ainda bem que me livrei do medo, ainda bem que consegui no último minuto afastar o desapontamento que me tenho, ainda bem que resolvi ir. O nosso instrutor sabe que eu estou sempre concentrada numa música, sempre que entro em frase d’Armas tenho sempre na cabeça uma música e sigo o ritmo dela … estive sempre, ao longo do torneio bastante ofensiva e ele no fim veio perguntar-me qual era a música que me estava a motivar, eu respondi-lhe, “V. não vai querer saber, garanto-lhe!”, ainda bem que fui …





Como é habitual o F. tinha preparado uma surpresa para o grupo, no fim já "desarmados" tinhamos à nossa espera umas garrafas de Castelinho tinto, reserva de 2005 e uma selecção de queijos à altura. Ah granda F.!