Levei alguns dias a arranjar coragem, pensei dezenas de vezes em fazê-lo e dezenas de vezes me vacilaram as pernas e me atemorizou o coração. Perguntei-me porque o queria fazer e equacionei o que ganhávamos com isso. Racionalizei ao máximo o que sentia, a vontade que tinha, o receio que me assolava … Voltei a ler alguns trechos que tenho sublinhados no livro “vai onde te leva o coração” da Susana Tamaro, não sei porque mas associo estas passagens ao que sinto quanto me lembro desta situação.
Resolvi que não iria visitar-te, achei-me egoísta …
Resolvi que te iria visitar e sofri tanto antes de chegar …
Desde que soube que tinhas desistido fiquei tensa, calada, pensativa, triste, angustiada, reservei-me … reservei-me como protecção, fui até mal interpretada por quem eu não queria que me interpretasse assim, por quem esperava que conseguisse ver sem eu ter de dizer, é uma densidade que não me deixa bem …
Ontem quando acordei e abri a janela estava um nevoeiro intenso e foi nesse momento que resolvi ir … passei pelos cd’s e peguei nos Depeche Mode, fui para cima a ouvir e a cada kilometro lançava-me a perguntas que tinha de responder antes de chegar … é uma forma que tenho de me focar, concentrar-me no essencial e ter já respostas para perguntas que sei que vou fazer, a verdade é que não consegui responder a uma única e sem me aperceber do tempo a passar dei conta de mim quando estava a chegar.
Entrei. Aguardei em mim conseguir estar serena, perguntei como te havia de encontrar e a voz não me deixou mentir, enrolei-me toda nem consegui dizer o teu nome … fiquei mais de uma hora à porta do quarto, criei raízes, não conseguia avançar … as lágrimas caíam-me e a coragem parece que me queria fugir, eu puxava-a pelo braço mas ela teimosa fugia-me, disse para mim já em tom austero para me obrigar a compor-me e a ganhar à coragem, vai, avança …!
E avancei …
Encontrei-te deitado na cama, a olhar pela janela, ausente, abstraído da vida, sem qualquer brilho nos olhos … ainda, assim quando me viste sorriste e disseste-me que não valia a pena chorar que não adiantava nada. É verdade não adianta …
Sem esboçares tristeza ou revolta ou sentimento algum, disseste-me que desde o Natal que não recebes visitas, que sabes que já não existes para todas as pessoas que conheces … que não te faz sentido estares assim e que se pudesses acabavas com a vida. Mantive-me apática ao que dizias, sabia que no momento em que me envolvesse na conversa me iam saltar lágrimas compulsivas … que nem o teu pai se lembrava mais de ti …
Que cruel que é saber isso através de ti, é atroz ver-te assim à espera de nada. Disseste-me que eu tinha os olhos iguais aos teus, mas não tenho os teus são verdes e os meus só estavam assim porque estavam lavados em lágrimas …
Falamos de tudo o que era nada, nem se quer consegui dar a vivacidade que normalmente dou às conversas mesmo que o assunto não tenha importância nenhuma … é uma auto anulação para não ser tão bárbaro sentir que já não sentes nada sobre coisa nenhuma …
Apesar de seres um miúdo que tiveste pouco acesso a tantas coisas, consegues guardar em ti um brilho de quem quis, um dia, abraçar o mundo … custa tanto sentir isso. Tanto!
Quando me preparava para me vir embora confidenciaste-me um desejo que tinhas, e com a ingenuidade que ainda manténs no teu olhar pediste-me para te possibilitar voltares à tua casa, que a coisa que mais querias era voltares a sentir o cheiro dela … e foi ai que as lágrimas me saltaram sem as conseguir controlar.
E claro que te vou atender a esse pedido, voltarei, assim que puder com os meios necessários para te satisfazer essa vontade … e tu não sabes mas vou-te levar a ver o mar …
Voltei para casa completamente vazia, carente, a precisar de um abraço, de um abraço muito apertado.
quinta-feira, 7 de maio de 2009
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6 comentários:
Não te devias expõr a situações que te fragilizam.
Ui...chego um pouco tarde...mas deixo-te um abraço bem apertado e...
...um beijo!!:)
Não procures, não tens de justificar!
Francisco,
Agradeço a sugestão!
Dida,
Não chegas nada tarde ... Obrigada!
Muito obrigada.
Bem precisei
Santo Padre,
Vá mais um xixizinho!
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