sexta-feira, 29 de maio de 2009

De longe

Eu sei que estás a um passo a um telefonema mas aquela sensação de que também me sei desenvencilhar sozinha faz com que pense em fazer mas nem sempre o faça, hoje tive mesmo de o fazer. Por momentos fiquei com a sensação que não tinha experiência nenhuma, que derrapei na matéria melhor preparada, vai daí e precisava de te ouvir dizer aquela tua frase … que curiosamente só gosto ouvir de ti “não te preocupes, ninguém morre disso!”.

Não sei porque vacilei, devo ter misturado sintonia com frequência … sei lá, acontece que já apostamos em cavalos errados, não perdemos fortunas porque também não as apostámos, mas a aposta é um risco que se quer correr. Há riscos que se correm sem querer, mas na aposta quer-se correr o risco … eu corri o risco sem querer, não apostei nada, nem sequer realizei …

Sorrio se pensar que apostas sempre no cavalo preto, e eu digo que nesse só aposto se tiver o pêlo a brilhar, e tu tens sempre Palcê de 2ª … e se ficava amuada dizias sempre, “deixa lá se tens azar ao jogo terás sorte no amor!”

Liguei-te e depois de me ter desembuchado disseste-me no teu tom mais calmo:

- Despe-te de ti, despe-te de preconceitos e fobias, das coisas que não resolveste. Mergulha, mergulha fundo, mergulha sem medo, sente as águas mais frias, sente cada átomo, cada partícula, cada respiração, cada alento e cada fôlego … vem à superfície e trás contigo esse sabor … o desprendimento dá-nos o sabor da verdade, do que queremos, do que somos, do que queremos sentir, guardar, reter em cada centímetro de pele …
Não há nada de mal nisso … perder nem sempre é mau! Tu sabes bem disso … querer mais é uma força capaz de mudar o mundo, o teu mundo. Se te sentes em queda agarra-te com força, não penses no que fizeste de mal, pensa no que queres fazer de bem, no que consegues fazer de bem. Não te sintas perdida, sabes bem que te foi ensinado a ler não te leram a história, tu sabes ler sozinha e mais que isso sabes escrevê-la …

E foi assim que mais uma vez o teu colo me renovou a ideia que é o colo em que mais acredito! Que me dá maior segurança, ohhhh colinho sábio!

Entretanto, depois de escrever isto vou fazer o nosso chá, do deserto …




quarta-feira, 27 de maio de 2009

Excêntrico

Então ontem foi assim, foi-me solicitado no âmbito do meu trabalho que fosse buscar uma criatura ao aeroporto e que a acompanhasse durante o dia, embora se sugira nesta frase, eu não sou acompanhante profissional!

Tratei de perguntar como chegava eu à criatura, como saberia identifica-la, quais eram as referencias? A reposta foi complicada de tão simples “ foca-te na pessoa mais excêntrica que vires desembarcar … é ele!”, estou lixada pensei eu…!
A caminho ainda me ri de mim, comecei logo a imaginar-me a pantera cor de rosa, só não dei aquele duplo pulinho a andar porque para além de não saber era capaz de ser complicado fazê-lo com os enormes saltos altos que calçava!

6.58 a.m
Encontrava-me já comodamente instalada no aeroporto de Lisboa, com os olhos postos na porta de desembarque, o que sabia era pouco, senhor de meia idade, excêntrico, não sabia se era alto, baixo, magro, gordo … não sabia nada, era excêntrico. Mr. Benson … o nome. É que nem sabia de onde vinha a criatura se de Madrid se de Jaipur …
Enquanto esperava deitei-me a pensar que estavam a gozar comigo, o meu colega, que até é uma pessoa de poucas graçolas, no dia de ontem estava armado à graçola e eu, tal qual pato bravo tinha caído e estava ali com o tema da Pantera cor de rosa na cabeça, numa missão de encontrar o Mr. Benson, o excêntrico. Sucediam-se pessoas na saída e eu a cada vez que surgia uma pessoa de sexo masculino pensava, ora deixa cá ver se tem alguma característica particular ou se é normal … um e outro e outro, este não que é novo demais, este não que vem acompanhado (mas ninguém disse que viria sozinho!!), este também não que é normal, ora aqui esta um exemplar para analisar um tipo de 40 e tal mas que aparenta menos, chinelos, ar te férias meio cabeça no ar … pode ser ah não, acenou lá para o fundo, não é este.

7.25 a.m
Nada de novo …
Mais um, dois, meia dúzia … nada, eu já estava a ficar impaciente e a duvidar da minha capacidade de observação, querem ver que a criatura já chegou, já se montou num táxi e eu aqui à espera do amanhã … não pode ser, eu teria visto, tenho analisado todos, daria com ele. Com isto pensei, mas o que é que será excêntrico para o meu colega?? Se calhar não é o mesmo que é para mim … detive-me 2 ou 3 minutos neste pensamento. Ora excêntrico é excêntrico. Não há que enganar!

7.45 a.m
Nada …
Não me posso distrair. Com o passar dos minutos já me estava a dispersar e a fazer o exercício da família, este é casado com aquela, que tem ali aquela irmã à espera e vem de não sei de onde … faço isto tantas vezes, mas hoje não posso, Mr. Benson, focar-me no homem excêntrico!
Só pode ser este! Ai mas só pode mesmo, engoli uma estridente gargalhada e dirigi-me a ele …

- Mr. Benson?
- Yes it’s me …
- wouldn't be suspicious!...

É claro que o meu colega não estava a gozar comigo e é claro que era simples saber quem a criatura era … e eu continuava a tentar engolir a gargalhada, desta feita à minha conta, que insistia em querer sair.

O Mr. Benson, uma figura, alta, muito magra com um ar ligeiramente empertigado e arrogante, mas simpático dentro do possível. Apresentou-se de fato em xadrez príncipe de Gales, camisa branca e gravada em rosa choque, os sapatos uma pequena maravilha, pretos com uma aplicação de pêlo branco e preto na parte de cima e com um evidente salto, para além disso usava um monóculo, que diga-se de passagem é uma coisa muito actual … eu pensei “temos Eça!”.

E lá partimos rumo aos compromissos que tínhamos agendados para o dia todo … e percebi naquele momento que o motorista e o carro recomendado faziam todo o sentido …

Durante todo o dia fui presenteada com um humor lancinante e voraz sobre vários aspectos, desde a enchente de painéis publicitários sobre o tema Europeias, que invade cada metro quadrado da cidade de Lisboa “Did they open a line to vote?”, à vontade que o Sr. teve de ir beber a famosa Ginginha no Rossio, sendo que quem conhece a zona sabe que ali em particular conseguem ver-se mais pessoas de cor que pessoas brancas “this zone was granted to any african country?” … muito bem passado …



segunda-feira, 25 de maio de 2009

Fui






Nestes últimos 3 dias senti-me passageira.

Passageira da vida, passageira da existência, passageira de sensações, passageira de impressões, passageira … viajante, fugaz …

Agarrei em meia dúzia de coisas fiz uma mala e parti, sozinha … há muito tempo que não viajava sozinha, foi o primeiro pensamento que tive, é tão bom viajar sozinha
É uma sensação da qual já me tinha esquecido, ir ao sabor, ao sabor de qualquer coisa, um apetece-me sem previsão, sem conteúdo … um vou ali já volto, vou ali mas não sei onde, vou e tento voltar … prometo que tento voltar.

Quando tive de resolver onde ia pensei, queres carne ou peixe? É tão simples como isto, e se se está sozinha … nem carne nem peixe, siga… Barcelona parece-me bem!

48 min depois estava a embarcar para Barcelona …

O céu estava limpo aproveitei para dormir, ando cansada, dormi e acordei já à chegada. A sensação que tive depois de desembarcar foi idêntica à que tive quando resolvi que ia mudar o percurso da minha vida hà 8 anos … e agora faço o quê?

Vou ver com os meus olhos, vou sentir com a minha alma e depois logo aparece o que me apetece fazer … dentro do possível, o que me apetece fazer, não tenho horas nem quero ter, um dia destes em conversa com uma amiga ela perguntou-me se não tinha medo de ir sozinha, assim sem programar, eu respondi-lhe que o meu maior receio é um dia ter medo de ir acompanhada, seja onde for … acho que não percebeu!

Fez-me bem, recuperei alguns cacos … vi com os meus olhos, vi-me outra vez à minha luz, senti-me com as minhas pulsações, sabe bem. Dei por mim no meu maior e melhor exercício, observar!



quinta-feira, 21 de maio de 2009

A caminho

"Há pessoas que nunca se perdem
porque nunca se põem a caminho."
Johann Goethe

Perco-me, desoriento-me, baralho-me, confundo-me, desnorteio-me, atrapalho-me, desatino-me, atordoo-me, assarapanto-me mas ponho-me sempre a caminho … a caminho do que acredito, a caminho do que confio, a caminho do que espero.

Se tombo …. tenho-me Levantado sempre
Se dou uma queda … tenho-me levantado sempre

Se fico mesmo muito aflita, como estou, fito um ponto no horizonte, no meu horizonte, e penso “se é aquilo que está ali, está só a esta distância … vai”

Em miúda tinha por sistema um sonho que ainda hoje tento decifrar e me atormenta, sonhava que gritava para me acudirem e ninguém ouvia, não produzia som e ninguém reparava que estava desesperada de medo, e desatava a correr e a tropeçar em tudo, trapalhona, corria sempre, corria, corria e corria, depois perdia-me, desorientava-me, baralhava-me, confundia-me… mas, sabendo que me ia perder punha-me sempre a caminho e como não conseguia que alguém me ouvisse nunca regressava a casa … acordava cansada e perguntava às pessoas se me estavam a ouvir bem …

Ultimamente este sonho atravessa-me a ideia tantas vezes, perdi-me e desatei a correr, tropecei, caí e quero levantar-me … mas ainda assim sem ainda me ter levantado, já me pus a caminho!


segunda-feira, 18 de maio de 2009

Raízes

São o que me prende à existência … o que me puxa à verdade, o que me faz sentido, eu preciso das minhas raízes, preciso de dar conta que existem, preciso de as sentir …

O cheiro da terra, do campo, o andar descalça … e choveu, adoro o cheiro do chão molhado pelo chuva …


Vim de peito cheio, bem precisava!







sábado, 16 de maio de 2009

Unico sentido # 2

E foi a mim que foi dada a maior lição de resistência, de coragem, de ânimo, eu que pensava que não ia aguentar, que oscilei entre zonas de força e de fragilidade entre bocados de grandes certezas e imensas duvidas, fui. Cumpri o que te havia prometido, com o coração apertado a voz trémula, fomos em busca do que tanto querias, o cheiro da tua casa … contornados os obstáculos, escadas, portas etc. e ali estavas a olhar à tua volta como se quisesses tocar novamente em todos os objectos mas que no fundo eram agora palco de um espectáculo que tinha já acabado, eram um cenário ainda montado que reflectia o que foste … vi-te nos olhos pena, angustia, tristeza, melancolia mas nem por um segundo te encontrei revolta, mágoa, amargura e esta foi a grande lição!
Ficaste o tempo que quiseste …


Quando voltámos, como havia pensado sem te dizer levei-te a ver o mar, fomos à Figueira da Foz passeamos na marginal, a única coisa que me disseste foi que não conhecias palavras para descrever o que estavas a sentir … deixa lá isso o que interessa é que sintas.
Tens já meios para sair daquela cama e havemos de encontrar alguma coisa que se possa fazer.
Eu tenho a agradecer a grande lição que acabei por ter, não desistir, acreditar SEMPRE ….!




Agora vou ali, voltar às minhas raízes, para encontrar a serenidade e paz que me fazem tanta falta, e cuja falta me desequilibrou e me fez patinar onde eu menos queria ...

terça-feira, 12 de maio de 2009

Energia

Energia precisa-se …

Precisava-se …


Entrou em cena esse grande maluco do Jamiroquai e o caso muda de figura. Fazer o que gosto por duas horitas já me deu uma boa bolsa de ar. Sim, eu sei que tenho uma multa para pagar pelos mesmos motivos, mas quero lá saber disso agora!

Tenho de pôr as ideias no lugar e de corrigir os erros, sem Delete!

A dormência que se instalou desde o principio do ano e que causou estragos a mais, vai ser pontapeada para fora, não há nenhuma necessidade de a ordem natural dos factos alterar o meu estado de espírito, mesmo depois de anos de constatações, não é mais que a conclusão de um estudo intensivo de tantas e tantas horas, sempre gostei de coisas resumidas esse é o problema. Achei, erradamente, que não tinha ainda descoberto que estudar assuntos importantes por grandes tratados era a minha vocação … não é, decididamente gosto de sintetizar em grande, resumos, que não há tempo para tudo! Bons resumos, abrangentes, elaborados mas parcos em grandes explicações …
Costumo ser mais racional, nestes últimos tempos dei em lamechas enfadonha, não pode ser.

Espiral invertida não é para aqui chamada, estamos entendidos?

Ide! Avançai! Aproximai, Antecipai e conquistai!


segunda-feira, 11 de maio de 2009

A primeira

Acabámos por ficar à conversa até os primeiros raios de sol, passámos por tanto bocadinho bom e mau das lembranças que temos, rimos tanto das “tonterias”, somos amigas há 25 anos, demos conta disso no sábado, temos de comemorar o quarto de século!

Só nos permitimos a perguntas difíceis uma à outra porque sabemos que não é preciso responder para que a outra saiba o que lhe vai na cabeça mesmo que as palavras que saiam sejam contrarias … é o que se é capaz de dizer, nunca chega ao que se pensa ou se sente…

Ora porque é que ando metida comigo mesma … porque sim, porque enquanto me meter comigo sei com quem é que me meto e não tropeço, foi uma pergunta de retórica!
Sim eu sei respondi em automático não é exactamente a verdade …

Que é que me doeu e me fez arrepiar?! Ora ora, sabes que o meu sentido de justiça é apuradíssimo e se me atinge a mim então …
Sim, injustiça, sim eu, sim senti, sim na pele …

E tu aproveitaste a deixa para puxares uma das nossas melhores histórias…

“Lembras-te quando andamos o ano inteiro a trabalhar e estudar para passarmos um mês de férias no Sul de Espanha?? Lembraste?
Lembraste que fomos com os rapazes, fomos os 5 num peugeot 106 … era para ser um mês no sul de Espanha e só começamos a pensar voltar para trás quando chegámos a Bratislava?!
Quantos anos tínhamos?? 20 ou 21 …
Ligávamos para casa e estávamos sempre em Espanha, tenho tantas boas recordações desses dias!”

Também eu …
Conduzíamos durante a noite para aproveitar os dias, era muito inconsciente …
As discussões que tínhamos por causa da música e da bagagem, fogo um 106 com duas miúdas e 3 rapazes … como é que levávamos tanta tralha, ainda dormimos muitas noites no carro, lembro-me tão bem quando chegamos ao Mónaco todos jagunços … e a tomar banho num balneário publico …

“ Que guerra tão boa que foi tudo aquilo. Tu tens grande parte de todas essas aventuras escritas não tens, bem me lembro que escrevias no carro e depois tínhamos de parar porque ameaçavas que ias vomitar, era para ires à frente não era!?”

Era, claro!
Mas fico sinceramente mal disposta, mas aquilo tinha de ser registado, um dia destes puxo aqui para o blog algumas passagens dessa viagem …

“Lembraste que jogamos todo o caminho o jogo da verdade?!
Foi ai que nos conhecemos todos verdadeiramente, nessa altura também não havia nada a esconder, ainda não tínhamos vivido nada …!”

É uma verdade, se fosse agora já era bem diferente, já não íamos conseguir aquele nível de sinceridade, não em conjunto como foi … Lembraste de dormirmos nas estações de comboio?
Lembro-me tão bem do momento em que resolvemos levantar barraca de Espanha … estávamos os 5 na praia e o P. disse qualquer coisa como “Não me aguento ficar aqui de lombo esticado mais de 2 dias…”, e parece que estávamos todos à espera uns dos outros, nem eu, nem eu, nem eu!
Naquela mesma noite arrancámos sem destino e depois íamos ao sabor das respostas do jogo da verdade …

“E estás feliz agora, com tudo o que se está a passar ? Arrependes-te? Voltavas a trás?”

Não, não estou feliz, não me arrependo nem voltava a trás … sabes que não acredito nisso, e isso da felicidade é um estado de espírito … nem se quer é uma conquista!
Tenho saudades de ir sem destino, de não estar focada num objectivo …

“Mas tens um objectivo agora? É por uma razão concreta? De que é que eu não sei?”

Deixa lá tenho de ir dormir que já me aguento …

É sempre tão claro falar contigo!





(coitados dos rapazes que ouviram estás músicas centenas de vezes, até já cantavam também...)

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Viena



Viena - 5 Maio 2009

Fui em trabalho, mas restaram-me 3 horas e aproveitei-as da melhor maneira que consegui, passei por alguns sítios que me desviaram a atenção, inevitavelmente desviaram-me a atenção. Parece que os mesmos olhos são outros olhos ...

"Não venhas para aqui que o chão aqui move-se sozinho ...! " passei por lá ...







O único sentido # 1

Levei alguns dias a arranjar coragem, pensei dezenas de vezes em fazê-lo e dezenas de vezes me vacilaram as pernas e me atemorizou o coração. Perguntei-me porque o queria fazer e equacionei o que ganhávamos com isso. Racionalizei ao máximo o que sentia, a vontade que tinha, o receio que me assolava … Voltei a ler alguns trechos que tenho sublinhados no livro “vai onde te leva o coração” da Susana Tamaro, não sei porque mas associo estas passagens ao que sinto quanto me lembro desta situação.

Resolvi que não iria visitar-te, achei-me egoísta …
Resolvi que te iria visitar e sofri tanto antes de chegar …

Desde que soube que tinhas desistido fiquei tensa, calada, pensativa, triste, angustiada, reservei-me … reservei-me como protecção, fui até mal interpretada por quem eu não queria que me interpretasse assim, por quem esperava que conseguisse ver sem eu ter de dizer, é uma densidade que não me deixa bem …

Ontem quando acordei e abri a janela estava um nevoeiro intenso e foi nesse momento que resolvi ir … passei pelos cd’s e peguei nos Depeche Mode, fui para cima a ouvir e a cada kilometro lançava-me a perguntas que tinha de responder antes de chegar … é uma forma que tenho de me focar, concentrar-me no essencial e ter já respostas para perguntas que sei que vou fazer, a verdade é que não consegui responder a uma única e sem me aperceber do tempo a passar dei conta de mim quando estava a chegar.

Entrei. Aguardei em mim conseguir estar serena, perguntei como te havia de encontrar e a voz não me deixou mentir, enrolei-me toda nem consegui dizer o teu nome … fiquei mais de uma hora à porta do quarto, criei raízes, não conseguia avançar … as lágrimas caíam-me e a coragem parece que me queria fugir, eu puxava-a pelo braço mas ela teimosa fugia-me, disse para mim já em tom austero para me obrigar a compor-me e a ganhar à coragem, vai, avança …!

E avancei …

Encontrei-te deitado na cama, a olhar pela janela, ausente, abstraído da vida, sem qualquer brilho nos olhos … ainda, assim quando me viste sorriste e disseste-me que não valia a pena chorar que não adiantava nada. É verdade não adianta …

Sem esboçares tristeza ou revolta ou sentimento algum, disseste-me que desde o Natal que não recebes visitas, que sabes que já não existes para todas as pessoas que conheces … que não te faz sentido estares assim e que se pudesses acabavas com a vida. Mantive-me apática ao que dizias, sabia que no momento em que me envolvesse na conversa me iam saltar lágrimas compulsivas … que nem o teu pai se lembrava mais de ti …

Que cruel que é saber isso através de ti, é atroz ver-te assim à espera de nada. Disseste-me que eu tinha os olhos iguais aos teus, mas não tenho os teus são verdes e os meus só estavam assim porque estavam lavados em lágrimas …

Falamos de tudo o que era nada, nem se quer consegui dar a vivacidade que normalmente dou às conversas mesmo que o assunto não tenha importância nenhuma … é uma auto anulação para não ser tão bárbaro sentir que já não sentes nada sobre coisa nenhuma …

Apesar de seres um miúdo que tiveste pouco acesso a tantas coisas, consegues guardar em ti um brilho de quem quis, um dia, abraçar o mundo … custa tanto sentir isso. Tanto!

Quando me preparava para me vir embora confidenciaste-me um desejo que tinhas, e com a ingenuidade que ainda manténs no teu olhar pediste-me para te possibilitar voltares à tua casa, que a coisa que mais querias era voltares a sentir o cheiro dela … e foi ai que as lágrimas me saltaram sem as conseguir controlar.

E claro que te vou atender a esse pedido, voltarei, assim que puder com os meios necessários para te satisfazer essa vontade … e tu não sabes mas vou-te levar a ver o mar …

Voltei para casa completamente vazia, carente, a precisar de um abraço, de um abraço muito apertado.



domingo, 3 de maio de 2009

A escolha

A ESCOLHA é irónica, trocista, sarcástica e mordaz. O prazer de Aprender que se tem de escolher, que não se pode ter duas coisas ao mesmo tempo é um sinal preciso do carácter trágico da vida que consiste no simples facto de, se uma coisa não se concilia com outra, tem de haver escolha!
A consequência é simples mas é derradeira, renuncia-se a umas coisas para se “ter” outras …
Há dias falava com uma pessoa que me é muito especial, resvalamos na escolha e ele disse-me “é muito bom ter escolha não é!?”, eu confirmei, sim é bom ter escolha, mas é uma ironia ter de escolher. Se se tem de escolher é porque ambas as hipóteses se apresentam como potenciais opções e ter de escolher ainda que nos dê o império da preferência empurra-nos para a ironia do sensato …
“Liberdade não é poder escolher entre preto e branco mas sim abominar este tipo de propostas de escolha”
Theodore Adorno

Eu gosto de ter para escolher mas não gosto de ter de escolher … mas, como toda a gente, sou obrigada a escolher diariamente sobre tantas opções que se me apresentam na vida, umas insignificantes que se prendem com coisas banais do dia a dia, outras mais duras que abraçam sentimentos, vontades, desejos, quereres …
O processo de escolha - de aceitação por um lado e de rejeição pelo outro – acompanha-nos sempre a cada passo e a cada impasse.
Eu escolhi não escolher, não me sentir desafiada, nem sequer senti vontade de saber se tinhas voltado … se voltaste foi porque escolheste voltar, eu escolhi ficar com o meu livro a esventrar ao meadros da CIA, legado de cinzas pela mão do Tim Weiner …
Foi uma escolha inteligente?
Não sei. Não quero saber.
A minha não escolha foi a escolha que fiz no momento em que me lançaste o desafio, acabei por não te ligar hoje … ligo-te amanhã para saber se estás bem, se já chegaste …
Uma escolha inteligente implica um sentido realista dos valores e das proporções e esta é a minha actual realidade. Garanto-te que exige um profundo conhecimento do que fui, do que sou e do quero e quero ser!




O destino é a seara que cresce da semente da escolha …

sexta-feira, 1 de maio de 2009

A pensar

Disse que ia pensar e continuo a pensar …
Ao fim da noite de quinta-feira recebi um telefonema de uma pessoa que me é próxima, onde me foi lançado um cartel:


- Olha, tenho um desafio para ti …
- Chuta para cá!
- Só vais conseguir aceitar se esqueceres, por horas, todos os compromissos e responsabilidades que tens na vida …
- Ui! Isso é coisa para eu declinar sem sequer querer saber o que é …
- Voltamos?
- Voltamos!?!?!
- Eu só volto se tu voltares comigo …
- Então parece-me que não vais voltar!
- Não voltas?? Tens coragem?
- Tenho coragem de não voltar!
- Tens coragem de acreditar que não queres voltar?
- Acredito que não vou voltar
- Eu acredito que voltarás …
- És um crente …
- Sábado, sitio do costume, hora do costume … sou crente… beijo, a exigência do costume mantêm-se …
- Ligo-te no Domingo …
- Falamos no sábado, tens 2 dias para ponderar …
…….
E aqui estou eu a ponderar …

Empurra-me o ímpeto, amarra-me o medo,
Impele-me a vontade, sustem-me o respeito,
Impulsiona-me a saudade, detêm-me o receio,
coage-me o desejo, retrai-me a reverência
Força-me o impulso, segura-me a apreensão …

Não é fácil ponderar com a cabeça quando o que corre nas veias fervilha , mexe-se, agita-se, estou numa tensão tão grande, luto comigo própria só não me esbofeteio para me chamar à razão porque não o conseguiria com a força necessária!